Williane Marques de Sousa
Publicado em: qua, 24/03/2021 - 11:47

Devido à atual pandemia do coronavírus, a água limpa se mostrou ainda mais importante, tanto para o consumo como para a higienização. Beber água frequentemente ajuda a regular a temperatura central do corpo e a diminuir as dores de cabeças gripais, além de hidratar as mucosas do nariz e da boca, que são essenciais para combater infecções e barrar a invasão de bactérias (1). A higienização das mãos com água e sabão também é uma medida de prevenção de transmissão da covid-19, visto que uma das principais formas de contágio ocorre quando há o contato do vírus com olhos, nariz e boca por meio de mãos não lavadas.

Por ser essencial, tanto para o consumo como para a higiene, deveria ser um recurso disponível para todas as pessoas, mas, infelizmente, não é. Conforme o diagnóstico dos serviços de água e esgotos feito pelo Sistema Nacional De Informações Sobre Saneamento (SNIS) no ano de 2019 (2), cerca de 83,7% dos brasileiros são atendidos com abastecimento de água tratada, ficando quase 35 milhões de brasileiros sem acesso a este serviço básico; além disso, o site G1 (3) informou, baseado em dados do Instituto Trata Brasil, que 21,7 milhões brasileiros não têm acesso à coleta de esgoto nas 100 maiores cidades do país e 5,5 milhões, à água potável. Mas porque isso acontece? E de quem é a culpa?

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Essa escassez de água ocorre por vários motivos no nosso país, e um deles é a má distribuição natural deste recurso no território, ou seja, nem sempre a região onde há maior concentração de pessoas é aquela que possui mais água. Como maior exemplo, podemos citar a região Norte, que possui uma densidade de apenas 4,12 habitantes para cada quilômetro quadrado, mas concentra quase 70% de todos os recursos hídricos disponíveis no Brasil; em contraste, temos a região Sudeste que conta com apenas 6% dos recursos hídricos do país e uma densidade demográfica superior aos 86 habitantes para cada quilômetro quadrado (4). Ligado a esse fator, temos também o crescimento populacional, já que quanto mais pessoas num lugar, maior será o consumo de água.

Outro fator para a ocorrência da falta de água em alguns lugares é a precariedade do nosso sistema de saneamento básico. Um estudo realizado pelo Instituto Trata Brasil e divulgado pelo site EOS Consultores (5) aponta que o país atende somente 50,3% da população com rede coletora de esgoto e, desse total, trata apenas 42,67%, sendo que o que não é tratado é jogado nos rios, contribuindo assim para a contaminação da água. Para se ter uma ideia dessa agressão ao meio ambiente, o esgoto não tratado das 100 maiores cidades do Brasil pode ser comparado a cerca de 5 mil piscinas olímpicas despejadas por dia na natureza... É muita sujeira, não é mesmo?

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Somado a isso existe ainda a perda que acontece durante a distribuição de água para consumo e que afeta também a economia do nosso país. O “Trata Brasil” (6) informou que os dados do SNIS 2018 mostram que as perdas na distribuição estão em 38,45%, ou seja, para cada 100 litros de água captada, tratada e potável, 38 litros não chegam de forma oficial a ninguém, o que equivale a 7,1 mil piscinas olímpicas de água perdidas todos os dias, gerando uma perda financeira acima dos R$ 12 bilhões.

Outro fator bastante relevante para a escassez de água potável é a poluição das águas por produtos químicos, que as tornam inviáveis para o consumo. As principais fontes desse tipo de poluição da água são as atividades agrícolas, que usam pesticidas e fertilizantes no solo, podendo atingir o lençol freático. Temos também as atividades industriais, que produzem diversos tipos de resíduos poluentes e tóxicos que são jogados no mar e nos rios e também pela atividade doméstica, que contaminam a água através de resíduos de aterros sanitários mal instalados, lixões a céu aberto e lançamento de esgoto doméstico nas águas (7).

Mas nem só de notícias ruins vive o brasileiro. No estado do Ceará, por exemplo, vale destacar duas ações governamentais que servirão para diminuir a escassez de água na região. A primeira é a chegada das águas do Rio São Francisco no estado por meio do Cinturão das Águas do Ceará (CAC), o que ocorreu no último dia 10 de março. O governador do estado, Camilo Santana afirmou ser um “Momento histórico para o nosso Estado. As águas do São Francisco percorreram os 300 km, incluindo o Cinturão das Águas, e chegaram ao açude Castanhão nesta tarde. Cerca de 4,5 milhões de cearenses serão beneficiados com a garantia hídrica da RMF, Cariri e Baixo e Médio Jaguaribe”, conforme divulgado pelo Diário do Nordeste (8).

A outra ação benéfica para o estado sobre este assunto é a construção de uma usina de dessalinização de água do mar na Praia do Pacheco, em Caucaia, iniciada em setembro de 2020, a primeira em todo o Brasil. Com capacidade de 1.200 metros cúbicos por dia, a usina vai garantir água de qualidade para mais de 12 mil famílias de Caucaia (região metropolitana de Fortaleza). Isso equivale a mais de 40 mil habitantes (ou 11% de toda a população do município) (9).

Apesar disso, vemos que a questão da escassez de água, principalmente a potável, é um assunto muito complexo e que não pode se resolver de um dia para o outro. É notório também que se trata de um assunto cuja responsabilidade não está só nas mãos de um agente, mas sim de todos.

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Ademais, a purificação dos rios, ou seja, o processo de despoluição, se mostra extremamente necessário, por mais que seja um processo lento e caro. Para isso, é necessário garantir que nenhum esgoto seja lançado sem o devido tratamento nas águas, o que só pode ser feito mediante o investimento em novas estações de tratamento de água. Por fim, é muito importante que a própria população ponha a mão na consciência e pare de jogar lixos e resíduos em locais inadequados, como nos rios, e também evitar ao máximo o desperdício da água, afinal, este recurso tão essencial para a humanidade está ficando cada vez mais escasso.

Williane Marques de Sousa
Estagiária Unieducar – Estudante de Direito

REFERÊNCIAS

A escassez de água potável... De quem é a responsabilidade?

Williane Marques de Sousa

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