Publicado em: dom, 07/02/2021 - 16:47
Depois da ‘edição pandêmica de 2020’ parece que a tendência de audiência do BBB deu um cavalo de pau. Milhares de pessoas que já haviam abandonado o reality show voltaram a ser fiéis seguidores do programa. E agora, a edição de 2021 está dominando os mais diversos fóruns de debates, gerando as mais apaixonadas discussões.
Você pode amar ou detestar (como é o meu caso) o BBB. Mas, que o programa é sucesso – principalmente a franquia brasileira – isso não se discute. Mas isso é agora, quando a fórmula, mesmo após a consagração, vem sendo permanentemente aperfeiçoada e até mesmo reinventada.
Maaaaasssssssss, se, em 1988, dois holandeses chamados Joop Ende e John Mol lhe telefonassem e dissessem: “ei, estamos abrindo uma empresa e queremos você como nosso sócio!”. Certamente o diálogo que se seguiria seria mais ou menos esse, a partir da sua reação inicial:
Som do telefone às 7 da manhã de um domingo: Triiiiiiimmmm (sim, em 1988 os telefones faziam um som parecido com esses, devido ao acionamento de uma campainha mecânica dentro da caixa plástica).
Você: Quem está falando?
Endemol: Olá, aqui somos o Joop Ende e John Mol, e queremos que você seja nosso sócio em nossa nova empresa, a Endemol, que é a junção dos nossos dois sobrenomes. Nós vamos ficar bilionários e queremos que você seja nosso sócio!
Você: Tá bom, e qual é o negócio que essa empresa vai explorar?
Endemol: Bom, é algo novo... Nós estamos pensando em patentear uma ideia que é mais ou menos assim: nós vamos alugar uma casa, instalar câmeras de videomonitoramento em todos os cômodos, inclusive nos banheiros, filmando tudo o que acontece na casa, vinte e quatro horas por dia.
Você: Tá, e o que acontece dentro dessa casa?
Endemol: Vamos criar algumas dinâmicas para expor as fragilidades dos internos e até visando gerar conflitos entre os participantes.
Você: E como vamos ganhar dinheiro com essa ideia? Quero dizer, como essa empresa com esse nome esquisito, “Endemol”, vai gerar receita?
Endemol: Bom, considerando que a nossa ideia vai ser patenteada globalmente, estamos pensando em ganhar dinheiro de diversas fontes, como patrocínios e merchandising, por exemplo. Mas pensamos que a nossa principal fonte de receita será o licenciamento de imagens às principais redes de TV em todo o planeta.
Você: E vocês acham que alguém no mundo vai querer pagar pra assistir um grupo de pessoas trancadas em uma casa, 24 horas por dia, 7 dias por semana? E vocês têm a cara de pau de me ligarem às 7 horas da manhã de um domingo, para propor sociedade em uma empresa que vai explorar um serviço sem pé, nem cabeça desses? Ora, tenha santa paciência!
Som do telefone às 7:16 da manhã: Tuuuu, tuuuu, tuuuu, tuuuu, tuuuuu.....
Hoje a Endemol (a empresa da qual você declinou convite para figurar no quadro societário) é um império bilionário, exatamente como o Joop e o John lhe falaram em fevereiro de 1988, quando tudo isso não passava de uma ideia maluca que um dos dois tirou de um sonho que teve em uma noite mal dormida, depois que abusou dos bolinhos de bitterballen e não conseguiu dormir direito.
Bom, pessoal, esse diálogo acima que teria acontecido com você, comigo e com mais um milhão de pessoas, ilustra bem como teria sido nossa reação quando e se tivéssemos sido abordados pelos fundadores da Endemol no dia 16 de fevereiro de 1988.
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Tá... e o que essa historinha tem a ver com a nossa pauta do dia que é Empreendedorismo? A seguir vamos pensar em como obter insights poderosos para nossa vida de empreendedores. Vamos lá!
Jamais tente projetar o que os seus clientes esperam de sua empresa baseando-se exclusivamente nos seus desejos e preconceitos. Veja qual teria sido a nossa resposta – dada em 1988 – quando convidados a ingressarmos como sócios da Endemol. Então a dica aqui é: baseie-se em pesquisas e experimentações realizadas com a sua base de clientes. Atente que não só pesquisas, mas experimentações são necessárias.
Ora, e por que as pesquisas não resolveriam? Imagine se o Steve Jobs tivesse realizado pesquisas junto aos usuários de celulares para saber o que eles queriam naquela época? Impossível seria que algum tivesse respondido que queria um smartphone, como o iPhone, por exemplo. Ou seja, seus clientes eventualmente não sabem o que querem até que você ofereça para eles.
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Então, não é suficiente – para ser realmente inovador – ouvir os seus clientes e prospects. Como um empreendedor de verdade você tem que ter a coragem de se expor; de testar coisas diferentes e até mesmo arriscar a oferecer algo que – talvez – você mesmo não comprasse.
Vamos analisar o cenário de pandemia. Nesses quase doze meses em que milhares de negócios deixaram de existir, outros tantos se reinventaram e surgiram da mais pura necessidade e urgência que a crise impôs, sob pena de faltar ao seu ‘fundador’ o básico.
O país conviveu (e ainda convive com) muitos decretos que limitam períodos e até horários de funcionamento de diversos estabelecimentos. Convivemos também com medidas de restrição de tráfego entre estados e até entre municípios dentro de uma mesma unidade federativa.
É fato que nem todas as pessoas e empresas dispõem das ferramentas, recursos financeiros e até mesmo de tempo necessário para pivotar. Mas há milhares de testemunhais de profissionais que lançaram mão de habilidades há muito esquecidas para desenvolver novos projetos empreendedores. Outras empresas aproveitaram uma janela de oportunidade para criar produtos.
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Esse foi o caso da LabYou, pequena empresa que criou uma linha de batons de cores personalizadas e estava pronta para o lançamento exatamente no mês de março, quando as medidas de isolamento sociais eliminaram a necessidade de uso de batons, por razões óbvias. O que fez a LabYou? Passou a produzir álcool em gel, aproveitando uma parte do maquinário e a permissão temporária que a ANVISA concedeu para empresas de cosméticos realizarem esse tipo de produção.
Há alguns dias o Governo do Estado limitou o funcionamento dos restaurantes até às 15 horas, provocando uma onda de protestos (legítimos) de trabalhadores, que exigiam – por parte do Estado – pelo menos uma medida de compensação em troca. Ocorre que outros empresários viram nessa crise mais uma oportunidade.
Esse foi o caso de um restaurante e cervejaria que só abria no período noturno. Mas, com o decreto limitando o funcionamento até às 15 horas, passou a abrir pela manhã e criou um cardápio com novos pratos para o horário do ‘brunch’. Resultado? Os clientes adoraram a inovação e agora já fazem pressão junto aos proprietários para que – após as restrições de horário da pandemia – o novo período da manhã (com o cardápio diferenciado) seja mantido. A preocupação dos empreendedores agora é como administrar essa exigência da clientela, o que demandará mais horas abertas.
Outro exemplo de pivotagem: Uma das entrevistas que ouvi no rádio há alguns dias foi com um músico que viu seu faturamento desabar quando os bares e restaurantes que tocava tiveram que fechar. Já estava anunciando seus instrumentos para pagar as contas, quando sua esposa sugeriu que ele fizesse os seus molhos de pimenta para vender. Ele retrucou: “quem vai querer comprar meus molhos de pimenta”? A realidade – alguns meses depois é que ele não tem como atender o volume de pedidos de amigos e indicados.
Percebeu como você pode ajustar a rota de seu negócio para atender um público diferenciado? Viu como às vezes você mesmo não imagina que alguém poderia querer consumir algo que você é capaz de produzir e entregar? Sacou que existe um processo de tentativa, erro, ajuste e redesenho, até atingir o alvo e gerar receita com o seu negócio?
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Prof. Juracy Soares - e-mail: juracy.soares@unieducar.org.br
Fundador da Unieducar Universidade Corporativa. Doutor em Direito; Mestre em Controladoria; Especialista em Auditoria; Graduado em Direito e Contábeis. Certificado em Docência do Ensino Superior; Pesquisador em e-Learning. Editor-Chefe da Revista Científica Semana Acadêmica. Professor universitário e palestrante internacional. Escritor, autor do livro Enriqueça Dormindo.